quinta-feira, 26 de maio de 2011

Nossos oito braços


Nem sempre acontece o que esperamos que aconteça. Como diria o poeta, a estrada da vida não nos permite saber ou ver o que virá. Amamos, machucamos, sentimos, pensamos. Rimos e fazemos rir. Gargalhamos. Algumas vezes traímos nossos próprios pensamentos, pensando. Outras, fazemos juras de amor eterno, sozinhos, no silêncio do quarto escuro. Abraçamos para confortar tristezas, choramos juntos de alegria. Somos machucados sem maldade. Ferimos sem querer. Às vezes percebemos que não existe nada mais cruel do que decepcionar nossas próprias convicções. Nos vendemos em nome do amor ou em detrimento do bem de quem amamos. Temos acesso de ira, de ódio, de tédio, de glória. Sentimos uma tenra piedade ao ver esmagar uma formiga contra a parede. Contamos piadas e fazemos os outros felizes. Queremos abraçar o mundo, mas não conseguimos dar a mão para erguer nosso vizinho. Humanos, sentimos, mas nos vêem como números e máquinas. Esperamos pelo não entendimento, mas somos retribuídos com uma suave, inquietante e desconfortante compreensão. Compreendemos porque amamos. Perdoamos pelo mesmo motivo. Ou não. Ou nada disso é assim e tudo se inverte. Enfim, o que nos faz nós é a beleza singular que ninguém mais tem. O que nos faz únicos são os piores defeitos que não vemos em mais ninguém. E assim foi e assim é, porque a vida é vivida, porque a vida é sonhada, porque a vida é sentida. Só nunca, jamais, se esqueça de algo: sua vida é assim, e ela segue seu fluxo. Ela não te leva e não, você também não a controla sozinha. Mas no fim se nada mais importa, o mais importante, é que a vida que está sendo vivida traz junto consigo agora uma nova vida.

Um menino caminha, E caminhando chega no muro
E ali logo em frente, A esperar pela gente, O futuro está...

E o futuro é uma astronave, Que tentamos pilotar
Não tem tempo, nem piedade, Nem tem hora de chegar
Sem pedir licença, Muda a nossa vida
E depois convida, A rir ou chorar...

Nessa estrada não nos cabe, Conhecer ou ver o que virá
O fim dela ninguém sabe, Bem ao certo onde vai dar
Vamos todos, Numa linda passarela, De uma aquarela
Que um dia enfim, Descolorirá...

Eu quase nunca sei o que dizer. Mas sei que nossos braços estão abertos sempre que quiser conforto. Sei também que não entendo, mas também sei que não julgo. Ainda sei que fico mudo, estranho, fico chato. Não, não há mais nada além dessa apatia momentânea. Quando amamos um amigo, um irmão, uma amiga, uma irmã, só resta dizer que aqui estamos. Estamos, porque não estou sozinho. Você sabe. Os braços de que falo são os nossos braços. Nossos oito braços. No final, só sei que compartilho seu choro, mesmo que soluçando sozinho, com os olhos molhados, porque uma parte de mim parece que partiu. Mas também sei que não partiu, mudou. Agora só quero entender a parte que ficou.

2 comentários:

  1. Eu gostava quando vocês eram um. Eu ria, me divertia. Sofri quieto porque não sou de muito falar. Cada um tem sua forma de se equilibrar. Só quero que saibam que continuo amando vocês sendo dois, agora três.

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  2. SIMPLESMENTE ESPETACULAR...e que palavras...que sábias palavras.

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